Banho de cachoeira que matou aluno de 14 anos não estava previsto em projeto do passeio escolar, diz polícia
AFOGAMENTO | 10/01/2022 16h 08min

O delegado Alexandre da Silva Nazareth afirmou que no projeto do passeio escolar em que o aluno Daniel Hiarle Arruda de Oliveira, de 14 anos, morreu, não estava previsto o banho na cachoeira.
Segundo ele, isso foi decidido depois pelos professores e esse fator teria impactado na responsabilidade deles em assumir o risco.
O menino morreu no dia 6 de dezembro do ano passado, durante uma excursão da Escola Estadual Professor Welcio Mesquita de Oliveira no Circuito das Cachoeiras, que fica no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, nesta segunda-feira (6).
O corpo de Daniel foi encontrado a 3 metros de profundidade, depois de 5 horas de busca.
A ausência do estudante só foi notada na hora de ir embora, quando o grupo estava no ônibus.
"A aula de campo não previa o banho dos alunos, mas isso foi executado na prática. Essa atividade fugiu das atribuições da escola. Não é uma aula de natação", afirma o delegado.
Alexandre explica que no plano escolar dos projetos as definições já delimitam as medidas necessárias nessas atividades.
Dessa forma, caso os professores tivessem definido com antecedência que haveria o banho nas cachoeiras, a excursão deixaria de ser uma aula de campo e seria um passeio de turismo de aventura.
O passeio de turismo de aventura exige outras medidas, como equipamentos individuais de proteção e profissionais habilitados para salvamento, entre outros.
"A polícia não busca impedir que as escolas promovam esse tipo de atividade, que são, sem dúvidas, enaltecedores para os alunos. No entanto, a partir do momento em que as escolas forem fazer esses tipos de atividades, devem tomar medidas pra prevenir que fatalidades assim ocorram", explica Nazareth.
Ele também explica que a investigação trabalha com a possibilidade de negligência dos profissionais, mas não da intenção de matar ou de assumir o risco. Por isso, a apuração aponta para homicídio culposo.
O delegado descarta também a versão de que Daniel teria sido empurrado. Não há nenhum depoimento e nem evidência pericial de que ele tenha sofrido algum tipo de violência antes do afogamento.
Até o momento, as investigações apontam que vários alunos estavam nas pedras, brincando de pular na água e Daniel era um deles.
Como era uma grande quantidade de alunos na cachoeira, os colegas do menino até perceberam o desaparecimento, mas acharam que Daniel havia ido mergulhar em outra parte.
Os alunos e os professores só se deram conta de que realmente poderia ter acontecido algo com o Daniel quando a chamada foi feita no estacionamento do parque.
Passeios em trilhas e cachoeiras eram feitos com guias de turismo até novembro deste ano, mas portaria do Meio Ambiente liberou visitas sem acompanhamento de profissionais — Foto: Rafaella Zanol/Secom-MT
Nos próximos dias, a polícia deve ouvir mais quatro estudantes, dois coordenadores que participaram da elaboração do projeto e os dois motoristas que transportaram os alunos.
Também estão sendo ouvidos profissionais especializados em turismo de aventura.
Até o momento, 22 pessoas já foram ouvidas.
Passeio sem guia
A escola informou que o passeio foi feito sem a presença de guia.
Uma portaria do dia 19 de novembro regulamentou o passeio pelo circuito das Cachoeiras sem guia de turismo.
A norma do Ministério do Meio Ambiente passou a valer no dia 23 do mês passado.
A entrada do atrativo é feita pela entrada principal do parque, localizada na Cachoeira Véu de Noiva, após leitura e assinatura de termo de conhecimento de risco de cada visitante.
São disponibilizadas 150 vagas diárias, com entrada das 9h às 12h.
Quando o Parque Nacional foi criado no município, em 1989, a visitação ao atrativo era livre.
No entanto, em 2008, quando ocorreu um acidente na Cachoeira Véu de Noiva, o acompanhamento de guia ou condutores para trilhar o caminho entre as cachoeiras passou a ser obrigatório.
Passeio feito com frequência pela escola
Os alunos pagaram R$ 30 para participar do passeio, segundo a mãe de Daniel.
A excursão é feita com frequência pela Escola Estadual Professor Welcio Mesquita de Oliveira, localizada no Bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá. Este foi o segundo passeio realizado em dezembro e havia outro previsto para aquela mesma semana, mas foi cancelado.
A mãe se diz arrependida por ter deixado o filho ir ao passeio.
"Ele era só uma criança. Se arrependimento matasse, eu estaria morta primeiro do que ele, porque eu não ia deixá-lo ir. Eu não ia deixar. Ele saiu de casa andando e agora vai voltar em um caixão”, declarou.
Desaparecimento e morte
Segundo a diretora da escola, cerca de 60 alunos foram ao passeio.
No final do dia, durante a contagem no ônibus, foi notada a falta dos três adolescentes.
Dois deles foram encontrados na trilha e os professores acionaram o Corpo de Bombeiros para procurar Daniel.
Cinco bombeiros e um cão de busca participaram da operação, que durou aproximadamente 5 horas.
A equipe dos bombeiros mergulhou na cachoeira e localizou o corpo do adolescente, que estava a 3 metros de profundidade.
Em nota, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) afirmou que tomou todas as medidas necessárias para ajudar nas buscas por Daniel e que as cachoeiras foram fechadas nesta terça-feira (7) para a investigação do caso.
Uma perícia foi feita no local, entre meia-noite e 7h de hoje.
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Fonte: G1 MT